Se a pandemia da COVID-19 não foi suficiente para diminuir a suposta fé daqueles religiosos fervorosos em suas crenças, ela certamente serviu para aumentar a descrença daqueles que não acreditam em nenhuma entidade sobrenatural. Ela evidenciou a ineficácia das orações, visto que, apesar delas, inúmeros fieis, de todas religiões, contraíram o vírus, desenvolveram a doença e, pior, morreram em consequência dela.
Durante a pandemia, o que pudemos ver foi o medo e o desespero dos que professam sua fé em alguma divindade, em se protegerem do contágio, enquanto torciam e aguardavam ansiosamente que a Ciência (que tanto combatem, apesar de sempre se utilizarem dela) conseguisse desenvolver e disponibilizar um imunizante o mais rápido possível.
Os seguidores do deus judaico-cristão, por exemplo, na contramão do que sugere o livro que fundamenta sua fé, não quiseram pagar para ver, ao invés de se manterem firmes na sua crença de que seu deus zela por eles, protegendo-os 24 horas por dia de todas as adversidades e garantido que após a morte irão para um lugar infinitamente melhor do que este mundo, não pensaram duas vezes, valeram-se de todos os meios disponíveis para evitar o contágio.
O comportamento que nós, descrentes, esperávamos da parte dos seguidores fiéis ao deus dos judeus seria o de não se abalarem, mantendo os cultos em seus templos, visitando e cuidando das pessoas contaminadas e acometidas pela doença e consolando aquelas que perderam seus entes queridos, sem medo de serem infectadas pelo vírus. Mas, ao invés disso, o que vimos foi um festival de desespero, medo, egoísmo e muita hipocrisia.
Apesar terem na ponta da língua e recitarem “aos quatro ventos”, uma enxurrada de versos retirados da bíblia, como:
“Ele (Deus) conhece e zela por todas as criaturas (Sl. 145:9)”;
“O Senhor está perto de todos os que o invocam, de todos os que o invocam com sinceridade” (Salmos 145:18).
“Tu (Deus) me cercas, por trás e pela frente, e pões a tua mão sobre mim” (Salmos 139:5);
“Não temas, pois estou com você; não tenha medo, pois sou o seu Deus. Eu o fortalecerei e o ajudarei; Eu o segurarei com a minha mão direita vitoriosa” (Isaías 41:10).
“O Senhor cuida da vida dos íntegros, e a herança deles permanecerá para sempre. Em tempos de adversidade não ficarão decepcionados; em dias de fome desfrutarão fartura “ (Salmos 37:18,19).
“Deixem aos cuidados dele (Deus) todas suas ansiedades, porque ele cuida de vós“ (I Pedro 1:5).
“O Senhor é a minha força e o meu escudo; nele o meu coração confia, e dele recebo ajuda” (Salmos 28:7).
“Deus é o nosso refúgio e a nossa fortaleza, auxílio sempre presente na adversidade” (Salmos 46:1).
Estes versos, e inúmeros outros que asseguram aos fiéis que sua divindade os livra de todos os males já deveriam ser suficientes para que eles se mantivessem tranquilos diante de uma pandemia, mas os versos dos Salmos 23:4 e 91:7, que dizem respectivamente: “Mesmo quando eu andar por um vale de trevas e morte, não temerei perigo algum, pois tu (Deus) estás comigo; a tua vara e o teu cajado me protegem” e “Mil poderão cair ao teu lado, dez mil à tua direita, mas nada te atingirá” deveriam ser determinantes.
Contudo, como sabemos que a fé e seus acessórios, tais quais, cultos, adorações, rituais, orações, meditações, mantras etc não surtem efeitos na prática, não nos surpreendeu o fato assistirmos a frenética correria dos (ditos) crentes aos supermercados, ou quaisquer outros pontos de venda, na busca ensandecida por álcool, máscaras de proteção e mantimentos pra se precaverem.
Também não nos causou espanto o fato de, guardadas as proporções, muitos religiosos e pouquíssimos ateus serem acometidos e morrerem em decorrência da COVID-19, muito pelo contrário, era exatamente isso se esperava em função da pandemia, pois não acreditamos que existam entidades que protejam os religiosos e, tampouco, que molestem apenas os descrentes. Se tais entidades de fato existissem, não teríamos visto hospitais lotados de religiosos lutando pela vida e nem tomaríamos conhecimento de notícias de que muitos bispos, padres, freiras, apóstolos, pastores e cantores religiosos, por exemplo, teriam morrido vítimas da doença.
Por fim, embora muitos religiosos tentem passar a ideia de que a pandemia veio como um recado de uma entidade sobrenatural com o objetivo nos alertar de que precisamos nos arrepender de nossas “eventuais falhas”, o que ela na realidade só nos fez ver foi cair por terra a ineficiente máscara da fé.
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