Próximo à minha casa mora um casal de
pastores evangélicos. Ele é proprietário de quase um quarteirão inteiro, onde
há, além da sua igreja, algumas residências e salões comerciais em locação
(espaço herdado do seu avô, que, segundo informações, havia sido adquirido de
forma não muito honesta).
Às vezes, quando nos encontramos,
costumamos bater um papo rápido, embora eu sempre procure encurtar a conversa e
evite abordar o assunto religião.
Há poucos dias, ele, meio que
envaidecido, me falava de um trabalho que ele e alguns membros da sua igreja estavam
fazendo com os moradores de rua e viciados em drogas em uma região conhecida
como cracolândia, aqui próximo, no centro de São Paulo, onde, em certo dia do
mês, distribuíam refeições e, lógico, aproveitavam para evangelizar.
Se não fosse tão hipócrita, o ato até
que seria louvável. Hipócrita porque, em primeiro lugar, ninguém sente fome
apenas uma vez por mês e, por fim, alimenta mais o ego de quem dá do que o
corpo de quem recebe.
Mas o que chamou a minha atenção, e me
levou a escrever este post, foi a cena que presenciei ontem, quando ele (o
pastor), enfurecido, expulsava um mendigo que havia se instalado em uma esquina,
na calçada de um dos seus imóveis, jogando todos os seus pertences na rua.
Imagine a cena: um homem, que se diz bondozo, proprietário de quase um quarteirão repleto de imóveis, expulsando, aos gritos, um mendigo que não tinha onde a cabeça reclinar.
Imagine a cena: um homem, que se diz bondozo, proprietário de quase um quarteirão repleto de imóveis, expulsando, aos gritos, um mendigo que não tinha onde a cabeça reclinar.
Fiquei me perguntado: O que leva uma
pessoa a agir com tanta insensatez? O faz alguém não perceber quando está
traindo tudo aquilo acredita? Será que a fé que a maioria das pessoas diz ter
não passa de fingimento ou “cegueira”?
Aquele pastor que, havia poucos dias,
tentava me passar (embora inutilmente) uma imagem de ovelha, agora estava
revelando a sua (talvez verdadeira) imagem de lobo feroz.
Talvez ele, como muitos outros, busque na
religião uma maneira de conter a fera que carrega dentro de si. E como nem
sempre consegue, procura realizar rituais de falsa bondade, distribuindo pãezinhos
aos famintos, para amenizar a sua culpa em decorrência dos estragos causados quando
a sua fera escapa.
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