Há um
conhecido provérbio que diz: “Prego que se destaca leva martelada”.
Eu poderia
estar criticando qualquer outro deus, mas como o deus judaico-cristão (Javé ou
Jeová, como queiram) - que doravante
chamarei simplesmente de “Deus”, pelo fato de ele assim ser mais conhecido - é
o mais popular aqui no Brasil, nada mais lógico que ele seja também o mais
criticado. Portanto, é só por este motivo que direciono a ele a maioria das
minhas críticas.
Os
seguidores de Deus costumam dizer que a desobediência dos primeiros humanos às suas
instruções é a causa de todos os males que acometem a humanidade e, por tabela,
os outros animais.
Apesar de Deus
em alguns momentos, sempre que conveniente, assumir características
particularmente humanas, como, se arrepender (Gênesis 6.6; Êxodo 32.14; I
Samuel 165.35 e Amós 7.3), se esquecer de algo (Gênesis 30.22; Êxodo 6.5;
Salmos 105.11; Salmos 105.42) e, como nós, precisar ver com os próprios olhos
para acreditar em algo (Gênesis 11.15), a sua característica mais marcante é a
de um ser extremamente sádico, que sente um prazer inexplicável com o cheiro da
fumaça exalada pelo corpo de um animal sendo queimado e, pior, com o
derramamento de sangue de homens em batalhas e animais executados em
sacrifício.
Mas, será
que os seus seguidores não se apercebem que se ele de fato existisse, se fosse
realmente o criador do universo, se mantivesse tanto poder concentrado em suas
mãos e fosse senhor absoluto de todas as suas vontades, o mundo
obrigatoriamente deveria ser o que imaginamos ser um paraíso?
A título
de exemplo, se eu fosse Deus, com os poderes a ele atribuídos, nada -nada mesmo
- me impediria de fazer do mundo o paraíso com o qual a humanidade tanto sonha.
Se aceitássemos
a ideia de que o universo tivesse sido criado como na bíblia está escrito, concluiríamos
que os erros cometidos por Deus no suposto plano de criação do universo seriam
muitos, e, além disso, determinantes nos fatores que contribuiriam para que o
mundo fosse o que hoje é. A maioria deles, eu, se fosse Deus, jamais cometeria,
pois saberia de antemão que desencadeariam eventos comprometeriam seriamente o
projeto de tornar o mundo um paraíso.
Portanto, primeiramente,
se eu fosse Deus, não criaria anjos, pois, sendo onipresente, eu não precisaria
deles e, sendo onisciente, saberia que um deles se rebelaria, se tornaria o que
chamamos de demônio, corromperia milhões de outros anjos e lideraria um motim
no céu para tomar o meu lugar.
Se eu
fosse Deus, não criaria um universo tão vasto, com imensas galáxias, pulsares,
quasares e buracos negros, afastados entre si por distâncias imensuráveis, para
colocar os seres humanos em uma “bolinha” quase imperceptível até mesmo se
observada do planeta mais próximo.
Se eu
fosse Deus, não criaria a Terra sujeita a tantos fatores os eventos, como, pragas,
epidemias, secas, tempestades, vulcões, terremotos, tsunamis e furacões, que
ameaçam a segurança dos seus habitantes.
Se eu
fosse Deus, não criaria animais presas e predadores.
Se eu
fosse Deus, não criaria o homem com sentimentos de inveja, orgulho, preconceito
e tantos outros que nada acrescentam à espécie humana. Dispensaria a prática de
sacrifícios e ofertas, pois elas certamente causariam a inveja de um irmão em
relação a outro, por julgar que a oferta deste foi melhor que a sua.
Se eu
fosse Deus, encheria o mundo apenas com pessoas boas, não permitiria que
pessoas más viessem ao mundo para perturbar a paz.
Se eu
fosse Deus, não colocaria uma árvore no planeta Terra para proibir e punir, com
ameaça de morte e sofrimento eterno, os primeiros seres humanos que
desobedecessem e comessem dos seus frutos, estendendo esta punição
desproporcional a todos os seus descendentes.
Se eu
fosse Deus, não autorizaria que uma nação invadisse outra para saquear e matar indiscriminadamente
milhares de pessoas, poupando apenas as jovens virgens para serem estupradas e
servirem de escravas sexuais.
Se eu
fosse Deus, nunca permitiria que um filho perdesse seus pais e jamais imporia
aos pais a dor de perder um filho.
Se eu
fosse Deus, não ordenaria o espancamento de um filho desobediente e, tampouco,
o seu apedrejamento até a morte, caso ele insistisse em desobedecer.
Se eu fosse Deus, jamais puniria o homem com um sofrimento eterno, por faltas transientes. Eu, sabendo das consequências das suas decisões, sentaria ao seu lado e orientaria a tomar mais certa.
Se eu
fosse Deus, não me esconderia por trás de tantos mistérios, eu falaria
diretamente com cada uma das minhas criaturas, evitando a exploração religiosa
por parte de aproveitadores e charlatães que fazem da fé alheia fonte inesgotável
de lucros, que impõem aos seus incautos seguidores uma vida de sacrifícios.
Se eu
fosse Deus, não exigiria adoração - adoraria ser adorado ou, melhor, amado apenas
por ser um deus, acima de tudo, humano.
Enfim, se
eu fosse um deus criador do universo, sendo detentor de toda sabedoria e absoluto
poder, o mínimo que poderia se esperar de mim é que este universo fosse
perfeito.