AS INSIGNIFICANTES MULHERES DA BÍBLIA

O CÚMULO DA HUMILHAÇÃO


Ló, o homem justo da bíblia, oferece suas duas filhas virgens para serem estupradas por um grande grupo de homens no lugar de dois hóspedes estranhos.




Na suposta destruição de Sodoma e Gomorra, Ló, sobrinho de Abraão, foi o escolhido para ser poupado junto com sua família por ser especialmente correto.

Dois anjos, em forma de homens, foram enviados a Sodoma para avisar Ló e dizer que ele saísse da cidade antes da chegada do enxofre.

Ló recebeu os anjos com hospitalidade, e então todos os homens de Sodoma reuniram-se em torno da casa dele e exigiram que Ló entregasse os anjos para que eles pudessem sodomizá-los (ter relações sexuais com eles).

Onde estão os homens que vieram para tua casa esta noite? Traze-os para que deles abusemos” (Gênesis 19, 5).

A bravura de Ló ao recusar-se a ceder à exigência sugere que Deus deve até ter tido razão ao considerá-lo o único homem de bem de Sodoma. Mas a auréola de Ló fica manchada com os termos de sua recusa:

Não, meus amigos! Não façam essa perversidade! Olhem, tenho duas filhas que ainda são virgens. Vou trazê-las para que vocês façam com elas o que bem entenderem. Mas não façam nada a estes homens, porque se acham debaixo da proteção do meu teto” (Gênesis 19, 7-8).

Por mais estranha que a história possa parecer, ela certamente nos indica alguma coisa sobre o respeito reservado às mulheres nessa cultura intensamente religiosa.

No final, a oferta que Ló fez da virgindade de suas filhas mostrou-se desnecessária, pois os anjos conseguiram afastar os agressores cegando-os por milagre. Eles então advertiram Ló para que partisse imediatamente com sua família e seus animais, porque a cidade estava prestes a ser destruída.

A família inteira escapou, com a exceção da pobre mulher de Ló, que o Senhor transformou num pilar de sal por ter cometido a ofensa – relativamente leve, como seria de imaginar – de olhar para trás para ver a chuva de fogo.

As duas filhas de Ló fazem uma breve reaparição na história. Depois de a mãe delas ter sido transformada num pilar de sal, elas moram com o pai numa caverna, no alto de uma montanha.

Carentes de companhia masculina, elas decidem embebedar o pai e transar com ele. Ló não percebeu quando sua filha mais velha chegou à sua cama ou quando saiu dela, mas não estava bêbado demais para engravidá-la.

Na noite seguinte as duas filhas combinaram que era a vez da mais nova. Novamente "Ló estava Bêbado demais para perceber", e a engravidou também (Gênesis 19, 31-36).

Se essa família tão perturbada era o melhor que Sodoma tinha a oferecer em termos de princípios morais, dá até para começar a sentir certa solidariedade para com Deus e seu enxofre punitivo.

A história de Ló e os sodomitas ressoa de forma assustadora no capítulo 19 do livro dos Juízes, quando um levita (líder religioso) não identificado, viajava com sua concubina e um escravo em uma região próxima à antiga Jerusalém. As coincidências entre as duas histórias nos dão a impresssão de estarmos assistindo à reapresentação de um filme.

Eles passaram a noite na casa de um velho hospitaleiro. Enquanto jantavam, os homens da cidade chegaram e bateram à porta, exigindo que o velho entregasse seu convidado para que pudessem abusar sexualmente dele.

E gritavam : "Traga para fora o homem que entrou na sua casa para que tenhamos relações com ele" - Juízes 19:22

Praticamente com as mesmas palavras de Ló, o velho lhes respondeu:“Não, irmãos meus, não façais semelhante loucura, ... Vejam, aqui está minha filha virgem e a concubina do meu hóspede. Eu as trarei para vocês, e vocês poderão usá-las e fazer com elas o que quiserem. Mas, nada façam com esse homem, não cometam tal loucura!" - Juízes 19, 23-24.

A expressão “poderão usá-las e fazer com elas o que quiserem” é especialmente aterradora. - Divirtam-se humilhando e estuprando minha filha e a concubina desse viajante, mas mostrem o devido respeito por meu convidado, que, afinal de contas, é homem. Não é de causar nojo?

Apesar da semelhança entre as duas histórias, ao contrário do que aconteceu com as filhas de ló, o desfecho para a concubina do viajante foi trágico. O viajante a entrega à multidão, que a estupra coletivamente a noite inteira. Como mostram os versos:

E eles a forçaram e abusaram dela toda a noite até pela manhã; e, subindo a alva, a deixaram. Ao romper da manhã, vindo a mulher, caiu à porta da casa do homem, onde estava o seu senhor, e ali ficou até que se fez dia claro”  -  Juízes 19, 25-26

De manhã, o viajante (um homem de Deus) encontra a concubina prostrada na porta e diz, com o que hoje consideraríamos de uma aspereza insensível: “Levanta-te, e vamos”. Mas ela não se moveu. Estava morta. Então ele “tomou de um cutelo e, pegando a concubina, a despedaçou por seus ossos em doze partes; e as enviou por todos os limites de Israel”.

Sim, você leu certo. Pode conferir em Juízes 19, 29.

O desprezo pela vida alheia, principalmente da mulhres, que as personagens envolvidas demonstram ter, com a qual o narrador parece compactuar, é de causar espanto. De tão repugnante, o episódio só dá para ser "digerido" partindo-se do presuposto que não tenha ocorrido de fato.

Não dá para entender como alguém, em sã consciência, pode aceitar que um livro que concorde com tamanha atrocidade possa ter sido inspirado por um deus bondoso.

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