sábado, 30 de março de 2013

quinta-feira, 14 de março de 2013

Ovelhas na igreja, lobos fora dela.

Próximo à minha casa mora um casal de pastores evangélicos. Ele é proprietário de quase um quarteirão inteiro, onde há, além da sua igreja, algumas residências e salões comerciais em locação (espaço herdado do seu avô, que, segundo informações, havia sido adquirido de forma não muito honesta).

Às vezes, quando nos encontramos, costumamos bater um papo rápido, embora eu sempre procure encurtar a conversa e evite abordar o assunto religião.

Há poucos dias, ele, meio que envaidecido, me falava de um trabalho que ele e alguns membros da sua igreja estavam fazendo com os moradores de rua e viciados em drogas em uma região conhecida como cracolândia, aqui próximo, no centro de São Paulo, onde, em certo dia do mês, distribuíam refeições e, lógico, aproveitavam para evangelizar.

Se não fosse tão hipócrita, o ato até que seria louvável. Hipócrita porque, em primeiro lugar, ninguém sente fome apenas uma vez por mês e, por fim, alimenta mais o ego de quem dá do que o corpo de quem recebe.

Mas o que chamou a minha atenção, e me levou a escrever este post, foi a cena que presenciei ontem, quando ele (o pastor), enfurecido, expulsava um mendigo que havia se instalado em uma esquina, na calçada de um dos seus imóveis, jogando todos os seus pertences na rua.

Imagine a cena: um homem, que se diz bondozo, proprietário de quase um quarteirão repleto de imóveis, expulsando, aos gritos, um mendigo que não tinha onde a cabeça reclinar.

Fiquei me perguntado: O que leva uma pessoa a agir com tanta insensatez? O faz alguém não perceber quando está traindo tudo aquilo acredita? Será que a fé que a maioria das pessoas diz ter não passa de fingimento ou “cegueira”?

Aquele pastor que, havia poucos dias, tentava me passar (embora inutilmente) uma imagem de ovelha, agora estava revelando a sua (talvez verdadeira) imagem de lobo feroz. 

Talvez ele, como muitos outros, busque na religião uma maneira de conter a fera que carrega dentro de si. E como nem sempre consegue, procura realizar rituais de falsa bondade, distribuindo pãezinhos aos famintos, para amenizar a sua culpa em decorrência dos estragos causados quando a sua fera escapa.