quarta-feira, 25 de maio de 2016

SE EU FOSSE DEUS

Há um conhecido provérbio que diz: “Prego que se destaca leva martelada”.

Eu poderia estar criticando qualquer outro deus, mas como o deus judaico-cristão (Javé ou Jeová, como queiram) -  que doravante chamarei simplesmente de “Deus”, pelo fato de ele assim ser mais conhecido - é o mais popular aqui no Brasil, nada mais lógico que ele seja também o mais criticado. Portanto, é só por este motivo que direciono a ele a maioria das minhas críticas.

Os seguidores de Deus costumam dizer que a desobediência dos primeiros humanos às suas instruções é a causa de todos os males que acometem a humanidade e, por tabela, os outros animais.

Apesar de Deus em alguns momentos, sempre que conveniente, assumir características particularmente humanas, como, se arrepender (Gênesis 6.6; Êxodo 32.14; I Samuel 165.35 e Amós 7.3), se esquecer de algo (Gênesis 30.22; Êxodo 6.5; Salmos 105.11; Salmos 105.42) e, como nós, precisar ver com os próprios olhos para acreditar em algo (Gênesis 11.15), a sua característica mais marcante é a de um ser extremamente sádico, que sente um prazer inexplicável com o cheiro da fumaça exalada pelo corpo de um animal sendo queimado e, pior, com o derramamento de sangue de homens em batalhas e animais executados em sacrifício.

Mas, será que os seus seguidores não se apercebem que se ele de fato existisse, se fosse realmente o criador do universo, se mantivesse tanto poder concentrado em suas mãos e fosse senhor absoluto de todas as suas vontades, o mundo obrigatoriamente deveria ser o que imaginamos ser um paraíso?

A título de exemplo, se eu fosse Deus, com os poderes a ele atribuídos, nada -nada mesmo - me impediria de fazer do mundo o paraíso com o qual a humanidade tanto sonha.

Se aceitássemos a ideia de que o universo tivesse sido criado como na bíblia está escrito, concluiríamos que os erros cometidos por Deus no suposto plano de criação do universo seriam muitos, e, além disso, determinantes nos fatores que contribuiriam para que o mundo fosse o que hoje é. A maioria deles, eu, se fosse Deus, jamais cometeria, pois saberia de antemão que desencadeariam eventos comprometeriam seriamente o projeto de tornar o mundo um paraíso.

Portanto, primeiramente, se eu fosse Deus, não criaria anjos, pois, sendo onipresente, eu não precisaria deles e, sendo onisciente, saberia que um deles se rebelaria, se tornaria o que chamamos de demônio, corromperia milhões de outros anjos e lideraria um motim no céu para tomar o meu lugar.

Se eu fosse Deus, não criaria um universo tão vasto, com imensas galáxias, pulsares, quasares e buracos negros, afastados entre si por distâncias imensuráveis, para colocar os seres humanos em uma “bolinha” quase imperceptível até mesmo se observada do planeta mais próximo.

Se eu fosse Deus, não criaria a Terra sujeita a tantos fatores os eventos, como, pragas, epidemias, secas, tempestades, vulcões, terremotos, tsunamis e furacões, que ameaçam a segurança dos seus habitantes.

Se eu fosse Deus, não criaria animais presas e predadores.
Se eu fosse Deus, não criaria o homem com sentimentos de inveja, orgulho, preconceito e tantos outros que nada acrescentam à espécie humana. Dispensaria a prática de sacrifícios e ofertas, pois elas certamente causariam a inveja de um irmão em relação a outro, por julgar que a oferta deste foi melhor que a sua.

Se eu fosse Deus, encheria o mundo apenas com pessoas boas, não permitiria que pessoas más viessem ao mundo para perturbar a paz.
Se eu fosse Deus, não colocaria uma árvore no planeta Terra para proibir e punir, com ameaça de morte e sofrimento eterno, os primeiros seres humanos que desobedecessem e comessem dos seus frutos, estendendo esta punição desproporcional a todos os seus descendentes.

Se eu fosse Deus, não autorizaria que uma nação invadisse outra para saquear e matar indiscriminadamente milhares de pessoas, poupando apenas as jovens virgens para serem estupradas e servirem de escravas sexuais.

Se eu fosse Deus, nunca permitiria que um filho perdesse seus pais e jamais imporia aos pais a dor de perder um filho.
Se eu fosse Deus, não ordenaria o espancamento de um filho desobediente e, tampouco, o seu apedrejamento até a morte, caso ele insistisse em desobedecer.

Se eu fosse Deus, jamais puniria o homem com um sofrimento eterno, por faltas transientes. Eu, sabendo das consequências das suas decisões, sentaria ao seu lado e orientaria a tomar mais certa.

Se eu fosse Deus, não me esconderia por trás de tantos mistérios, eu falaria diretamente com cada uma das minhas criaturas, evitando a exploração religiosa por parte de aproveitadores e charlatães que fazem da fé alheia fonte inesgotável de lucros, que impõem aos seus incautos seguidores uma vida de sacrifícios.

Se eu fosse Deus, não exigiria adoração - adoraria ser adorado ou, melhor, amado apenas por ser um deus, acima de tudo, humano.

Enfim, se eu fosse um deus criador do universo, sendo detentor de toda sabedoria e absoluto poder, o mínimo que poderia se esperar de mim é que este universo fosse perfeito.