sexta-feira, 24 de junho de 2016

O INCRÍVEL ENCONTRO DAS ONZE GERAÇÕES.


A bíblia não mostra, talvez por descuido daqueles que a elaboraram, que todos os patriarcas pós-diluvianos da família de Abraão estavam incrivelmente “vivinhos da silva” quando este completou seus quarenta anos de vida. Precisei recorrer à morfologia para classificar o grau de parentesco de muitos deles em relação a Abraão. É cansativo, mas vale a pena conferir no que deu: Terá era seu pai, Naor era seu avô, Serugue era seu bisavô, Reú era seu trisavô, Pelegue era seu tetravô, Heber era seu pentavô, Selá era seu hexavô, Arfaxade era seu heptavô, Sem era seu octavô e Noé, seu eneavô. É absurdo, mas, de acordo com a bíblia, eles foram contemporâneos por, pelo menos, quarenta anos.

Só para dar um exemplo, de acordo com a bíblia, quando Noé morreu Abraão estava com cerca de sessenta anos. É muito estranho o fato de estas duas pessoas tão importantes na narrativa bíblica nunca terem se encontrado ou, pelo menos, tentado se comunicar uma com a outra. Também não há nenhum registro de Abraão tomando conhecimento e lamentando a morte de Noé, a grande estrela da história do dilúvio, ocorrido havia pouco mais de trezentos anos.


Causa estranheza também o fato de, depois do dilúvio, Noé ter mergulhado no mais completo anonimato, e nele permanecido, por trezentos e cinquenta anos, até a sua morte. Sequer um comentário há sobre Noé questionando existência da maldade entre os homens nas cidades de Babel e, posteriormente, em Sodoma, mesmo havendo tão pouco tempo desde que havia ocorrido o grande dilúvio, quando Deus o submetera a passar quase um ano de tortura, dentro de uma arca fétida, cheia de animais, com fezes e urina pra todo lado e infestada de insetos, justamente para acabar com a maldade entre os homens.


Até fico imaginando uma situação hipotética, embora biblicamente possível, em que Abraão decide reunir os seus ancestrais vivos para uma festa por ocasião do seu aniversário de quarenta anos, e descobre que, por incrível que pareça, todos eles, desde o seu pai até Noé, estão vivos. Se à época já existissem máquinas fotográficas, daria até para reunir todos na mesma foto. Mas talvez fosse necessária uma lente grande angular.


Pode até ser que haja um ou outro pastor, ou líder religioso, que tenha chegado à conclusão de que Abraão e Noé tenham sido contemporâneos por algum tempo. Quem quiser fazer prova disso, basta perguntar a algum padre, pastor, rabino ou qualquer cristão se Abraão poderia, algum dia da sua vida, ter se encontrado e cumprimentado Noé com um aperto de mão. O único empecilho, no caso, seria a distância, mas como no subconsciente da maioria dos religiosos já se implantou a ideia de que os dois personagens não viveram à mesma época, ele certamente te olhará com um ar de superioridade de quem conhece a bíblia e responderá que o tempo seria o obstáculo.

Enfim, tudo isso pode até ser aceito por muitos como tendo sido fatos verídicos, mas para mim não passa de fantasia demais e sensatez de menos.